Eram 18:59h, o relógio não mudou
a hora. Era escuro, dentro ou fora de mim, e havia muitos sonhos para pouco
sono pela frente. O Ney Matogrosso, de Oxóssi com Oyá, me suspirava ‘’Promessas
Demais’’ com aquele som inigualável, com amor e romance que nunca ninguém soube
remeter ao próximo. Amor próprio, acima de tudo. Amor próprio que o meu, seu,
deles, nunca soube como transbordar. Palavras agudas em um som doloroso e
poético. Palavras mornas dentro do suor acenado de tantos esforços em vão.
Eu me senti tão sozinho enquanto
vaguei por dentro de mim mesmo, cheguei ao ponto, em muitos dias, de me
comparar a um entregador de pizza. Já parou para pensar o quanto esse ser é
solitário? Ele vem, te entrega a pizza, te passa o refrigerante, te dá o teu
troco e enquanto você entra e apaga a sua luz da rua ele ainda está ali fora
contando o dinheiro, analisando o próximo endereço, com uma luz e ternura que a
gente passa anos tentando encontrar e já possuímos sem saber. Ai, minha mãe
Oxum, como eu pedi para que o mundo, pelo menos em meu mundo, fosse menos
medonho, com menos choros. Mas que nunca me falte o abrigo de um gélido
passado, um de um fodido futuro. De repente, vi que perdi tanta gente, mornas e
quentes, escuras e frias… Algumas perdas nos fazem bem, outras nos trazem a
lenidade já perdida por outras tentativas, meu bem.
O medo quase me afogou em minhas
próprias lágrimas, me inundei mas não fora de repente que senti a perda. Aliás,
querida, a perda é sempre programada de acordo com o início que nem sempre traz
uma beleza para algum segundo atrás. Seu coração dispara na tentativa de uma
cartada fatal, mas não é assim, perto do Natal, com o peru recheado ou com a
gaveta vazia, que vais encontrar o que buscas na estrada, na vida (alheia).
Poeiras passam por aqui e você me sorrir mentiras encantáveis. Incontável essa
maneira de me restar em um gemido torto, em um sangue desgarrado dessas veias
ferventes, mas em tratados com a vida se quebra tudo, menos aquele grito de
desabafo e vitória de não ter se entregado antes do vinho chegar, antes da
minha alma caminhar.
Carlo Lagos.