Minha foto
Palavras são doenças esperando cura. Quando digo o que sou, de alguma forma, eu o faço para também dizer o que não sou.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Calor.

Por que, Ferreira, por que ainda insiste em tentar ser a água dos Lagos, a água quente para coar o café? Você é gelo, abraçada num amar infinito, com trinta e oito minutos de navegação e uma imensa vida de sofrer em teus próprios córregos. Todo amor sem coberta, sema feto, é o mais perfeito. É constituído de choros melancólicos num dia de Sol onde todos pensam em queimar o rabo numa praia qualquer, tolos, não sabem que já vivem com a areia no rabo, a onda é a própria vida – turbulenta. Digo sempre ao maldito coração: estúpido, você não deve mais tentar. Saia à revelia, ganhe tua noite em copos sujos de batom, mais um copo, mais uma taça, mais uma canção com rememorações. Venha como criança e chore pela frustração, mudança de vida tampouco tem a ver com dor no coração.

Tão forte quanto o nó que nos une é a fraqueza amorosa que nos impede de estarmos juntos, separados entre nós, unidos por corações feito de moinhos de vento que sempre soam com destino à fome de afeto. Saber que te incomodo com as minhas flechas de amor muito me excita. É hora de saber perder. Quem pensa que o céu é perto nas nuvens não vai chegar, me diga o que tu queres, te direi o que podemos ser. Só me sinto salvo quando estou perdido e ninguém morre por falta de companhia, as pessoas morrem quando não se encontra em seu próprio ser. Rompendo as fronteiras dos sonhos, encontrando corações sangrando por cada inevitável despedida. Acho que estou chegando no abismo de minha solidão, me encontrando em mim mesmo, me perdendo de tudo, achando o nada entre flores e nuvens negras. Entre céu e céu me acho meio pinel, meio sem rumo, vou até o amor, volto pela estrada da dor. Vou à dança, danço na vida. Quando se embolar entre as estrelas do seu magnífico breu, dê a volta, ampute sua tristeza, volte à origem das felicidades, dê a mão às margaridas embriagadas dentro do vaso de tua alma, volta.

Minhas veias venosas, que um dia foi tão astuta e venenosa quanto uma sucuri, hoje, me desafia, se entope de tabaco, me empurra a falta de ar, pede amor, suplica carinho pro coração tentar viver, pulsar por mais uma chuva. Não dispenso aquela bela pitada de juras fodidas de amor; afinal de contas é sempre bom ter algo para se divertir quando alguém te largar. Tudo bem, não vai fugir da gente, me pegou num dia em que meu lado bipolar está desligado. Não vou pôr em prática meu lado homem-suicída, meu lado feminino é gay e gosta de sentir o teu cheiro de mulher, logo: não vou te matar, a não ser mentalmente dentro de mim a cada lágrima que correr, a cada pulsação do meu sangue que é branco de tanto ópio, de tanto gelo que recebo. O amor pode ser ingerido a qualquer hora do dia, o problema é saber lhe dar com a empazinação emocional oriunda das espinhas que o peixe sempre nos faz engasgar. Tenho, ainda, dentro de mim um sonho azulado tão limpo quanto um aquário... Eu sinto que algo bem grande, bem forte impede de ser feliz. Algo repleto de inúmeros fracassos, de estupefatas sensações insaciáveis, de arrogância permutativas e sonhos realizados com passarinhos pretos em pesadelos, esse algo é a gente. Você mesmo impede tua própria felicidade, é muito forte para fazer tudo de errado, use essa fortaleza para lidar com a dor, não chore por um amor que partiu – azar o dele, ter partido – chore por mais um dia que você não sorriu, nem que seja para você mesmo diante do espelho quebrado por decepções.

Como já citei um dia: Deus é uma PIADA e o Diabo a GARGALHADA!

Lagos.

12 comentários:

  1. É sim, a vida é o oceno que tenta nos afogar, embriagar. Num jogo de tirar o sonhar, o dançar, o pulsar, o ar. Mas é um mar de àguas limpas e não dá para navegar em solidão.
    Beijos...
    Texto maravilhoso

    ResponderExcluir
  2. Muito lindo esse texto, fiquei sem palavras.
    são coisas que a gente vivencia todo dia, mas que poucas pessoas tem a sensibilidade de perceber isso.

    Beijos

    ResponderExcluir
  3. Anjo,
    Escrito maravilhosamente bem.
    Me vi de corpo e alma nessa parte: "Vc é o gelo,abraçada num mar infinito, com trinta e oito minutos de navegação e uma imensa vida de sofrer em teus próprios córregos".
    Peerfeito!!
    É dificil sim esse velejar anjo. não é fácil mas é necessário passarmos por esses córregos..
    Um beijo,
    Fé Fraga.
    http://mefaltaumpedacoteu.blogspot.cm

    ResponderExcluir
  4. Eu não sei onde me perdi nessse córrego de ilusões.

    Que lindo. tú sabes encontrar o caminho...

    Beijo amigo

    ResponderExcluir
  5. Cara, que texto foda. Você derramou palavras aceleradas, odiosas, rancorosas, amarguradas e apaixonados de uma forma tão sincera e compatível com um sujo balcão de bar, à meia luz. Lembrou-me muito de Dostoiévski, Bukowski e Ginsberg.
    Meus parabéns! Gostei muito do seu estilo.

    Abraços

    ResponderExcluir
  6. "Só me sinto salvo quando estou perdido e ninguém morre por falta de companhia". Disse tudo! Adoro essas suas frases de efeito, rs.

    beijos.

    ResponderExcluir
  7. E eu sei o que dizer?
    Não sei.
    Você sempre surpreendente... Quando acho que chegou à perfeição, me engano, e você faz mais uma obra maravilhada dessa! Parabéns sempre. E obrigada por suas palavras, de verdade.

    ResponderExcluir
  8. Parabéns, muito lindo. Lindo mesmo!

    E, "quem pensa que o céu é perto nas nuvens não vai chegar, me diga o que tu queres, te direi o que podemos ser."

    Arrepiou.

    Um beijo grande.

    ResponderExcluir

Pense o que quiser, escreva o que puder, mas, por favor, seja sempre sincero.