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Palavras são doenças esperando cura. Quando digo o que sou, de alguma forma, eu o faço para também dizer o que não sou.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Guilhotina.

Eu não estou aqui. Toda física entre os corpos está se desentendo. Todas as fotos na parede estão ficando amareladas, ausentes de atenção, presente em na tormenta que causa em meu coração. Se na semana que vem eu não estiver aqui, me matei. Se isso acontecer, é muito culpa minha. Fluoxetina não ta me servindo de nada. Tenho andado cada vez mais reduzido ao chão, ao pó. Foi preciso sumir um pouco. Ta limpo. Ta tudo limpo. Sem maldade, deixa os búzios falarem. Deixa o meu amor calado. Não vou mendigar atenção, tampouco, lamber teu chão de deusa-mau-fodida-da-manhã-seguinte. É plenamente complicado lhe dar meu coração, ando cansado de amar sozinho, sonhar sozinho e, principalmente, chorar sozinho no canto da casa depois que todos já encheram a cara, usaram todas a drogas possíveis e foram embora. Sempre ficam as garrafas vazias para eu recolher, os copos com marcas de batom vermelho, guardanapos com bilhetes trocados. Cansei desses dias quente, preciso de um grande amor e você trocada
por um whisky barato, me sai caro.

Não adianta se desesperar e andar de um lado o outro. Se andar significasse saúde, o carteiro seria imortal. O teu cigarro te mostra bem, mal tragado, filtro amarelo: exibe bem tua depressão. A tua alma já foi embora. Deus e um Exu pagão brigam por ela, mas não é para desfrutar desta, é para não ter em seu reino, é para lhe deixa ali mesmo, largada em qualquer mísera capela. Tire a minha foto da tua gaveta de calcinha, pra quê mais mandinga? Pare de importunar a Mãe Oxum, com velas, amarrações com meu nome, deixa meu anjo da guarda em paz. Deixe-nos respirar um pouco. Me pergunto o por quê disso tudo. Não era suficiente me-ter toda noite em tua cama? Arrepiar cada pelo do teu corpo já não me excita tanto e preciso de distância. Por muitas vezes torço pra o tempo passar e ele se arrasta dentro de mim, dentro do relógio, das semanas, dentro dos fodidos meses que estou sem um outro alguém.

Teu maior erro não foi tentar me enganar e sim tentar me fazer ver o amor onde existia ilusão. Me fazer acreditar no que você mesmo não crê. Dispenso todo teu colo, guardo meu amor pra mim. Um dia vou ter a quem amar se pensar na hipótese de ser infeliz. Me deixe aqui, pode sair, vou ser tão romântico quanto antes, vou sonhar ainda mais com o amor. O amor ñ pode ser (desa)creditado nem muito creditado. Tem que ter suas parcelas bem diretas, iguais. Não perca um pouquinho sequer desse tempo que ainda lhe resta. Levante, se arrume, sua mala já está pronta – eu mesmo a arrumei - vá embora e não me olhe nem que seja para dizer que sem mim a vida não presta.

Lagos.

7 comentários:

  1. "O amor não pode ser (des)creditado nem muito creditado. Tem que ter suas parcelas bem diretas, iguais."

    Preciso me lembrar disso :(
    Ficou lindo o texto Carlinho! ♥

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  2. Vou gravar nos meus favoritos...Tem tanta coisa aí que eu preciso me lembrar, fazer um mantra...

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  3. E se olhar para dentro desse peito amarrotado de idéias, de sonhos, de amor e desilusão, talvez goste mais de si. Eu acho que o amor sempre vai embora para o porão, E assusta tanto.

    E tuas palavras sempre soam bonitas.

    Um beijo meu amigo

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  4. Não consigo não acreditar...
    não consigo nem quero..

    Beijo, Anjo!
    Saudades!

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  5. Amei esse texto! Seus textos são sempre ótimos, sou suspeita pra dizer qualquer coisa.

    Estou tentando voltar, mas ta dificil demais. Só que não vou desistir tão cedo, vou conseguir escrever como antes uma hora ou outra, depois de tanto treinar. Espero que seja assim. xx

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  6. Ah, os seus textos... sempre belos e profundos!
    Estava com saudades de ler!
    beijão

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  7. Incrivelmente lindo, dolorido e sincero!

    Pra mim Fluoxetina não funciona mais tbém!

    Vai que a gente precisa de 'amores possíveis'....

    beijos querido, saudade!

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