Vinte e nove pensamentos.

Para ler ao som de: CocoRosie - The Sea Is Calm

Minha mãe fazia cara torta quando eu começava a escrever por horas seguidas durante a madrugada, com uma cara de doente, com o cigarro acabando, com a vodka russa me causando embrulhos mentais. Ela dizia que isso nunca ia me dar dinheiro. Concordo. Infelizmente, concordo. Tem uma coisa que ninguém nunca soube: a cada segundo que passava e eu escrevia era uma forma que eu tentava (so)breviver. Esperava que um dia minha vida encontrasse forma, ou que a fórmula do amor me viesse pelo ar, pelo mar, por uma pessoa sincera, por peito mal chupado. Tenho medo disso. Homem, barbado, graduado, já apanhou e bateu. Já socou a cara de uma ex namorada e tem medo? É mais fácil lidar com a força física a ter que sustentar todo o peso de uma dor sentimental. É sim.

Vai, alivia o teu stress. Solta essa pomba-gira escandalosa que há em ti. Cante pra mim algo da Elis, ou, imite a voz da Ângela Ro Ro. Você me (en)canta tão bem que qualquer coisa cantada por ti amenizaria a dor do meu ouvido que já recebeu tantas coisas medíocres e covardes. Muita coisa já me aconteceu. Pesadelos se transformando em cachorros. Meu pai sumir sem eu nunca ter visto. Só falta abrirem a porta do quarto e dizerem que sou adotado, ou que fui deixado na porta de alguém por ser estranho demais assim que nasci. Nada me assusta tanto, a não ser a minha solidão. A solidão de mim mesmo. Com toda autenticidade? Eu odeio o que escrevo. Odeio ainda mais o fato de me sentir sozinho em meio à trilhões de almas tão podres quanto à minha - que elogiam cada linha que cito – e mesmo assim eu me sentir em pleno niilismo. Odeio o fato de carregar dores compulsivas e expressivas. Mas amo o fato de ainda conseguir sonhar que o amor vai me abraçar a qualquer momento. Seja na hora da carreira de cocaína no banheiro. Seja na hora em que eu estiver em uma esperança ainda maior de puro desespero.

Esse jeito de amor é um crime duplamente qualificado. É o teu sabor ao meio em uma loja de grife qualquer. É a minha melhor camisa vestida em outra mulher depois de um sexo e um vinho bem gostoso. Como sempre cometi crimes e pecados, relaxo. Deito. Esvazio a mente e encho mais ainda o coração de espaço vazio. De frio sem uma mão para me tocar nas noites que apesar de quentes dentro de mim teimam em ser frias quando preciso de alguém para me cuidar. Dores físicas nos tiram a paz e sacrifícios emocionais nos fortalecem. Lembro de quando eu era criança: Domingo, logo cedo, eu nem alcançava a cafeteira, mas queria ser o homem da casa – criado com a mãe e a avó. Logo, alcancei a cafeteira e pude apalpar tudo que sempre quis. Com o amor também foi assim: desejei tanto, conquistei tantos corações e esqueci do meu que foi sendo (a)coado. Uma hora o café esfria, os pássaros voltam pra suas árvores e o amor que você tanto (sus)pirou, se vai. (Ex)pira.

Carlo Lagos.