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Palavras são doenças esperando cura. Quando digo o que sou, de alguma forma, eu o faço para também dizer o que não sou.

quinta-feira, 29 de março de 2012

290 ml.

Eu a odiava tanto quando vinha falar em nomes de escritores, sendo que eu só fazia questão de conhecer o Caio F. Abreu. Eu não suportava aquela mania dela de secar a louça – aquela porra ia secar sozinho com o tempo, como eu sequei minhas lágrimas pelas mil despedidas. Nas crises existenciais dela era eu quem lambia aquela xota mal agradecida, aqueles cabelos eram acariciados pelas minhas mãos e hoje, se me olhar na rua, me retribui com ingratidão. O cara que ela dizia ser apenas o seu melhor amigo, hoje, é o que mete nela enquanto ela pensa em mim. No dia em que ela partiu, eu também decidi por um fim em tudo, menos naquilo que nunca havia começado: o sonho.

Eu poderia ficar olhando a sua linda bunda a noite inteira, mas, ao lembrar que pela manhã virão as necessidades fisiológicas o meu ser faz eu me lembrar que devo ter ainda mais apego ao meu outro lado, o sentimental-da-praça-quinze-de-madrugada. Os seus pensamentos serão mais interessantes e desinibidos do que termos dois corpos nus e sedentos por sexo e traições moral. Todo amor do mundo não seria suficiente para escapar do peso que a mente nos remete. Juntos é ainda mais fácil de imaginar o dia raiar, separados é mais doloroso lembrar o quanto foi duro trepar com a empregada pensando na vizinha do quinto andar.

-Qual o problema? - perguntou ela com o desejo aflorado.

O problema é deixar o vento levar, pois nessas medidas de dez sempre vão algumas essências do nosso ser. Me atirei tanto em você, me enganei tanto comigo. Cocaína não alegra mais. Maconha não é mais bem vinda. Sempre te vi como uma criança num lindo parque com uma delicada sinceridade de viver como se fosse natural em pleno ego com abstinência. A chuva caindo me mostra todas as profundidades que foram anunciadas desde quando viemos de longe. Desde quando eu, sujeito homem e renomeado, era mais simples do que um retrato preto e branco e você, mulher(?), era revogada ao teu próprio ser com a necessidade de crescer. Com a minha fita azul do Bonfim, firmada em meu pulso esquerdo, sigo em frente sendo um vencedor de mim mesmo. Vencendo meus pesadelos e tendo o ar como companhia para me esconder de meu próprio coração!

C. Lagoϟ .

Um comentário:

  1. Nunca tinha pensando nisso..
    se esconder do proprio coração.
    que triste e que lindo ao mesmo tempo.

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