Significas
muito pra mim e eu não aceito ver você chorar. Olha, talvez, quem sabe, eu até
me acostume com essa ideia pífia de viver, mas é estranho pra nós, seres
evoluídos demais, ou sem luz em excesso, né? Sabe, muito critiquei a tua forma
de ser, cética, abandonar tudo e o nada por muito ou por pouco, mas eu vi que
era devido o meu ser se bem mesquinho ao ponto de não saber reconhecer que, por
vezes, na vida, o jeito do outro viver é o melhor jeito ou, quem sabe, um jeito
de finalmente (so)breviver. Eu não sei
lidar com essa falta, falta de ar, falta de grana, falta de mim, falta da sua
presença e do teu jeito torto que me conserta. Eu não sei. Não é pra mim. Eu
sou muito egoísta pra em meio à toda essa confusão tentar descobrir o que é
melhor pra mim - viu, sempre eu vindo em primeiro lugar?!?!
Sabe, filha, eu sinto cheiro de chuva aqui. Tá meio
abafado. As várias e longas carreiras inaladas ao longo do dia não me
permitiria sentir esse cheiro. Deve ser, como dizemos nos Candomblé, um estado
de espírito chamado de: “axé”. Traz paz.
Traz amor. Só não traz você. Você, quem sabe, nos mês dos mortos venha ressuscitar
a minha vida (torço que a tua também). Não se torture a cada manhã com
pensamentos de que o dia será horrível. Preciso daquela esperança que um dia
depositei em ti. Você sabe que eu, esse vadio nato, já sofri demais aqui, e não
vejo a hora de ter, quem sabe, uma pequena foto pra guardar de lembrança dos
nossos inúmeros sorrisos que temos a dar pra esse mundo profano. Sabe, filha,
por vezes, fico me perguntando se eu faria falta. Um monte de mulher mal
amadas, e mal enrabadas sabem dizer que eu faria falta. Elas só me buscam pelo
lado espiritual. Enquanto você, dear, me busca pelo quê mesmo? Pela devoção um
ao outro. Por uma amizade que começou do nada e pra nada, que se distanciou por
causa de uma piroca que só soube te foder – literalmente. Mas entre nós sempre
houve paz, sempre há mais. Sempre há a espera… Mas que não demore muito, pois
não sei até quando saberei ter forças pra fingir que sei sorrir.
Com todo seu sentimento,
Carlo Lagoϟ.
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